Sua sala de aula tinha que ser um primor. Os alunos deveriam estar sempre limpos e com os uniformes impecáveis. Todos com os cabelos bem penteados e as unhas aparadas.
De vez em quando ela passava entre as filas de carteiras e olhava de cima, a cabeça dos alunos em busca de lêndeas. Dizia que não queria criança piolhenta em sua sala.
Um dia, num desses passeios entre as carteiras, ela parou perto de mim e ficou olhando fixamente para os meus cabelos. Senti um frio na barriga... Depois, em silêncio, voltou para sua mesa e se pôs a escrever.
A aula continuou normalmente até que na hora da saída ela chamou meu nome e disse:
- Raquel, entregue esse bilhete a sua mãe.
O bilhete estava num envelope fechado, mas eu desconfiava qual seria o assunto...
- Piolhos!
Depois de ler o bilhete, minha mãe foi logo tomando providencia.
Me colocou sentada entre suas pernas e borrifou Neocid. Apertava a latinha com uma dedicação... Poc Poc Poc... E o pó se espalhando por todo lado. Não sei se ela queria acabar com os piolhos ou comigo...
Não parava mais de apertar a bendita latinha!
Não parava mais de apertar a bendita latinha!
Depois de tanto Poc Poc Poc , amarrou um pano em minha cabeça e me mandou brincar.
Passado algum tempo me mandou tomar um banho e passou em mim o pente fino pra ver se tinha algum sobrevivente.
Quando meu pai chegou em casa eu já não tinha mais piolhos, mas mesmo assim ele deu o veredito:
- Vamos cortar os cabelos!
Pensei que iria acertar apenas as pontas e lá fui eu, toda feliz. Ao chegar na Conceição, ele me saiu com essa:
- Pode cortar bem curto, a la Joãozinho.
E ela cortou!
Meu cabelo que era comprido foi embora...
E eu, quando vi o tamanho do estrago, tive vontade de chorar... Ai que raiva! Raiva da professora, da minha mãe, do meu pai, da Conceição e até de mim, que tinha ficado com cara de menino.
E pra piorar ainda mais a situação, a noite a bronquite me atacou!
Fui ao médico e depois da inalação, algumas injeções...
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