sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A encenação.

     Quando criança, sempre tive certeza que era muito querida por minha família.
     Não tive grandes medos ou sustos. Nunca presenciei cenas de violência em minha casa. Acho que o tratamento que recebi na minha infância contribuiu muito para que eu crescesse sem medo de enfrentar a vida e os problemas que aparecem nela.
     Minha mãe era cadeirante e super independente. Fazia todos os afazeres de casa porque não conseguia se dar bem com nenhuma empregada. Era perfeccionita ao extremo. O único serviço doméstico que minha mãe não fazia era lavar e passar roupas.
     Todos os dias, por volta das duas da tarde, minha mãe ia para seu quarto descansar o corpo de sua cadeira de rodas. E me levava junto...
     Eu me deitava ao seu lado e ela me contava histórias de seu tempo de menina. Histórias onde ela ainda andava e corria livremente pelas fazendas e sítios onde morou. Histórias felizes, tristes, engraçadas... Ela também me contava histórias da carochinha, causos, lendas...
     Nessas tardes com minha mãe descobri o porque do meu nome e a jogar dominó. Aprendi a respeitar a opinião dos outros e a ver as horas. Aprendi a gostar de bolo recém saído do forno (Não, bolo quente não dá dor de barriga.) e de ouvir e contar histórias. Herança de minha mãe...
     Um dia, como de costume, meu irmão veio almoçar em casa. Depois do almoço, começou a fazer graça e pirraça, me provocando de tudo quanto era jeito... De repente deu cinco minutos nele. Olhou feio em minha direção e disse que ia me bater.
     Pegou minha corda de pular e me mandou correr.
     Desembestei...
     Quando dei por mim, já estava quase na esquina, com o meu irmão atrás, dizendo que ia me bater.
     As pessoas da rua olhavam assustadas, dizendo que se ele me pegasse eu não sairia viva.
     De repente ele me pegou. Deu tempo de ouvir alguém dizendo: - Agora ele mata a menina.
     Ele, na maior cara de pau, me pegou no colo e, me levando para casa disse:
     - Enganei todo mundo. Sou melhor que o Tony Ramos!

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