quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O rei e as crianças.

     Quando tinha onze anos, adorava futebol.
     Jogava com outras crianças num campinho improvisado, no Jardim Eulina. Era um time misto. O único time misto do bairro. E dávamos o que falar...
     Walkíria, Vânia, Rosane e eu, éramos titulares do time. E jogávamos de igual para igual com os meninos. Tá certo que o time não tinha nenhum craque de bola, mas até que dava trabalho... pelo menos para as mães, que viviam fazendo curativos nos filhos.
     O nosso campinho era a junção de dois terrenos abandonados pelos proprietários. E nós, além de protagonizarmos grandes batalhas futebolísticas ali, ainda cuidávamos para que o mato não crescesse, como se realmente fosse nosso...
     Um dia, o proprietário de um dos terrenos apareceu. Pouco tempo depois, chegou um caminhão cheio de tijolos... Começava  o fim do campinho... Logo seguida foi erguido um muro entre os terrenos. Pronto... "Mataram" o campinho!
     Futebol agora, só pela televisão ou no Majestoso... Eu adorava ver a "macaca" em campo.
     A Ponte Preta era o time do coração de muitos moradores de Campinas no final da década de 70. Time de ponta. Fazia parte da elite do futebol paulista.
     A Ponte Preta tinha um time cheio de craques, mas o xodó das crianças era Dario José dos Santos, o 
Dadá Maravilha, o nosso rei Dadá.
     Num domingo, saindo do Andorinha, vi um tumulto na frente de uma casa do Bonfim. Meu irmão e eu paramos para ver o rebuliço e entender o que estava acontecendo...
     Da casa saiu um carro e dentro do carro, ele, o rei Dadá... Descobri naquele dia onde ficava o seu "palácio". Um casebre, se comparada as dos atuais (e inatingíveis) ídolos do futebol nacional.
     Fiquei enlouquecida. O Dadá foi o assunto da semana.Precisava conseguir seu autógrafo...
     Infelizmente, ninguém queria me ajudar nessa empreitada.
     Mas, quando contei ao João Carlos sobre a vontade de conseguir um autógrafo do Dadá, na hora ele teve a idéia: - É fácil. É só matar a aula num dia que não tiver jogo da Ponte e ir na casa dele. 
     Foi o que fizemos numa tarde de terça-feira. Matamos aula e fomos até lá, de bicicleta.
     O Bonfim não era tão longe do Eulina e chegar até o Andorinha a gente sabia, sem erro...
     Ao chegar na casa do Dadá, tocamos a campainha e pedimos para falar com ele, na maior cara de pau.
     Logo em seguida ele apareceu.
     Pense em alguém simpático... Multiplique por dez. Resultado: Dadá Maravilha!
     Ele nos recebeu muito bem. Brincando, imitou a gagueira do João Carlos, contou histórias e deu autógrafos para nós dois. Fez tudo isso sem segurança por perto.E no final pediu para nós tomarmos cuidado na rua e continuar torcendo pela Ponte Preta.
     Tudo foi melhor do que eu tinha imaginado.
     O problema foi quando chegamos em casa. Ih, nem conto... O tempo fechou para nós.
     Taí um dia que valeu cada segundo.


     Obs: Se futebol é uma arte, Dadá Maravilha foi um de seus expoentes mais brilhantes.



                                               Cinco frases de Dadá Maravilha.

     Chuto tão mal que, no dia que eu fizer um gol de fora da área, o goleiro tem que ser eliminado do futebol.

     Não existe gol feio. Feio é não fazer gol.

     Quando eu saltava o zagueiro conseguia ver o numero da minha chuteira.

     Com Dadá em campo, não existe placar em branco.

     Para fazer gol de cabeça, era queixo no peito ou queixo no ombro.


     
       
        

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